segunda-feira, janeiro 30, 2006

espelho meu, espelho meu

As pessoas são estranhas. Tentam dar uma boa imagem delas próprias na maneira como se vestem, na maneira como agem, na maneira como se expressam. Fazem de tudo para alegrar ao próximo, mentindo ou não, depende do caso. Percorro os olhos pela multidão apressada que entra no metro, e vejo botas cheias de pelo, óculos gigantescos que cobrem a testa, cintos com picos, cristas cheias de gel, enfim, um autêntico desfile. O engraçado é que estas coisas aparecem num dia e desaparecem noutro sem nos apercebermos. Copiam-se uns aos outros, só para se sentirem bem com o resto da sociedade, ou gostam realmente do que vestem? Aposto que se chegam ao espelho de manhã e dão voltinhas e mais voltinhas em busca da imagem perfeita, imagem esta que foi pré estabelecida por alguém que se deve julgar superior aos outros neste campo. Existe uma enorme preguiça mental na cabeça das pessoas, que se limitam a usar o que lhes é imposto. Gostam e consomem porque sim, porque está na moda, e porque adoram ouvir “Ai, as tuas botas são tão giras! São iguais às minhas mas com menos pelo!”. Sinceramente acho que de manhã a pessoa deveria dirigir-se ao espelho e olhar para os seus olhos e ver o que se passa lá dentro. Julgar-se a si própria e tirar algumas conclusões. Ou gosta mesmo de vestir o que está na “moda”, ou se tem medo de enfrentar as criticas (que de válidas nada têm) sobre a sua maneira de se vestir, expressar ou agir. Tenham calma pinguins, o 25 de Abril há de chegar à vossa terra.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

abençoada paciência

se há dias em que uma pessoa se revolta, hoje foi um deles. A dor de cabeça chegou quando estava dentro do metro. Não sei porquê, mas cada vez que ando no metro as veias da minha cabeça ficam inchadas e prestes a rebentar. Enfiei-me no comboio, respirei fundo, pus os óculos e dediquei trinta e dois minutos à leitura. Chegado a Cascais fui direito aos autocarros, para regressar a casa. A hora era má, e haviam filas à espera que chegassem os autocarros para estes ficarem bem cheios e apertados. Como eu não sabia onde começava a fila do meu, fiquei fora desta. Lá chegaram os dois autocarros, cada um para a sua fila. Foi então que as pessoas que estavam numa fila repararam que deviam estar noutra, e vice versa. O caos instalou-se. Eu lá me fui aproximando da porta do meu autocarro, quando começo a ouvir uma querida senhora: “Estas pessoas passam à frente! Estou ali na fila há mais de meia hora, e não há respeito”. Ela continuou a ladrar durante uns bons segundos. Eu lá deixei a simpática senhora passar à minha frente para ver se esta se calava. O engraçado é que a senhora estava na outra fila...Enfim, há espaço para todos no autocarro e não nos vamos chatear. Tentei-me acomodar no meio daquela gente toda, e arranjei um espacinho ao pé da porta da saída. Quando o autocarro parava numa paragem eu lá me encolhia para as pessoas saírem. Missão um pouco complicada visto que aquilo estava atolado de gente. É claro que com paciência corre tudo bem. Paragem após paragem a minha ginástica repetia-se, tudo corria bem até a tal senhora carregar no botão. As portas abriram-se, eu abri passagem, as pessoas foram saindo sem problemas, e nisto a puta da velha (que não tem outro nome) ganha fôlego e ladra para o ar: “Mas o que é que se passa com as pessoas?! Põem-se aqui e não deixam passar!!!”. Eu juro...a minha vontade foi de espancar aquela puta desgraçada, dar-lhe um pontapé nas costas enquanto ela saía, atirar-lhe uma chapada na nuca, sei lá! Tantas hipóteses! Estive mesmo perto de ir parar à esquadra por agressão a uma idosa. Puta da velha...Em vez disso levantei a voz e respondi: “É preciso é calma”. Não foi tão bom como queria, mas ao menos disse alguma coisa. Cheguei a casa e comi bolachas de água e sal com doce de morango.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

pobre Barnabé

a noite estava calma, o céu salpicado de estrelas e a lua estava tão cheia que quase transbordava. O Barnabé estava a dormir na sua cama e a sonhar que era pequenino em relação ao mundo. Tudo à sua volta era gigantesco e ele sentia-se perdido. Andava desorientado num mundo em que as pessoas eram enormes “blocos”, vestidos de castanhos e cinzentos. Eram pouco simpáticas, assustadoras e conseguiam gelar o coração a qualquer um que se atrevesse a olhar para estas. As ruas eram frias, com pouca luminosidade, os caminhos escorregadios e com enormes rachas e falhas. O Barnabé não corria, nem chorava... não que ele não o quisesse fazer, mas não queria dar nas vistas. Assustado e cheio de frio, tentou procurar um sitio onde se pudesse esconder e se sentisse seguro. Ao olhar sempre de lado para as criaturas, o Barnabé não viu onde pôs o pé, tropeçou numa casca de pistacho, e foi de encontro ao joelho de uma das criaturas! Esta pegou no pobre Barnabé pela gola da camisa e em menos de um segundo devorou-o, mastigando-o 5 vezes.
O Barnabé acordou a suar, e com o coração a bater muito rápido. Estava tudo escuro e resolveu sair da cama para ir beber água à casa de banho. Não conseguiu dar com os chinelos, por causa do escuro e seguiu caminho para não acordar ninguém. Estava de olhos bem abertos (mas em vão), e com as mãos esticadas para evitar alguma parede. Quando sentiu que já estava perto da casa de banho baixou os braços e deu um passo em frente. O azar do Barnabé é que não estava realmente em frente da porta da casa de banho, mas sim ao lado desta, cerca de uns 20 centímetros, suficientes para bater violentamente e brutalmente com o dedo pequenino do pé esquerdo na parede. O dedo partiu-se, a unha dividiu-se em duas (saltando uma para o chão), a parede sujou-se de sangue e o Barnabé acordou a família toda com um enorme: “FODA-SE!”.
Moral da história: A luz está cara.

terça-feira, janeiro 03, 2006

assentos erguidos

Vamos lá ver se nos entendemos de uma vez por todas. Porque é que cada vez que um homem vai à casa de banho e deixa o assento levantado quando sai de lá, as mulheres refilam sempre? Mandam sempre aquela boca que somos porcos, mal educados e uns machistas de primeira. Isso está completamente errado minhas amigas. O trabalho que vocês têm a baixar o assento, é o mesmo trabalho que nós temos ao levantar o assento (e a tampa por vezes). Logo, não se queixem! Se querem sempre o assento para baixo tudo bem, mas quando fizerem o que têm a fazer ponham-no para cima que também temos direito. Ao menos assim não enchemos o assento com urina, ahaahah. É que realmente é mesmo coisa de mulher... passam a vida a preocuparem-se com coisas mesquinhas, sem interesse nenhum! Tempestades em copos de água! Ai Adão Adão...

segunda-feira, janeiro 02, 2006

run Forrest, run

nunca gostei de ginástica e aulas de educação física ...talvez porque as experiências que tive não foram das melhores...calções gigantescos para os lados, mas curtinhos para baixo, uma enorme t-shirt na qual o logotipo da escola ficava-me na barriga em vez de ser no peito. As inúmeras voltas que dei à escola, às 8 da manhã, com frio e com chuva. O corta-mato, esse grande evento no qual participavam dois tipos de concorrentes: os que queriam ir, e o que não queriam ir (mas que eram obrigados). Eu fazia parte deste último grupo e era daqueles que só lá estavam para encher. Lembro-me do meu primeiro corta-mato...arranquei ao lado de um amigo meu, e até estávamos confiantes, apesar do frio que se fazia sentir! Quem sabe se não chegaríamos ao fim!!!...Fiquei a saber na primeira volta. Não chegámos ao fim. Íamos bem colocados, bem demais para ser franco, quando nos aproximámos de um carreiro bastante estreito, lamacento e escorregadio. De um lado a grade da escola, do outro uma ravina cheia de arbustos e ervas daninhas. Abrandámos o passo, mas não foi suficiente para evitar a queda do meu amigo. Deu um mergulho de cabeça naquela piscina de lama. O meu primeiro instinto, como bom camarada que era, foi parar e ajudá-lo a levantar, para seguirmos em frente, mas quando olhei para trás vi uma manada de tipos enormes, a gritarem que nem umas bestas e ainda por cima o fato da ginástica assentava-lhes como uma luva! É claro que o meu instinto de camaradagem foi por água abaixo, dando lugar ao instinto de sobrevivência! Encostei-me à grade e assisti ao atropelamento do meu amigo. Já não bastava o rapaz estar ali deitado todo sujo de lama, e tinha de levar com umas 80 pisadelas nas costas, pernas e cabeça. O comboio lá passou e lá tentei socorrer, o que sobrava, do desgraçado. Ele chorava baba, ranho...e lama. Lá se levantou e fomos ao encontro da barraquinha das urgências, improvisada ali no meio do campo de futebol. Eu sentia-me um herói (apesar do fato XL de ginástica não ajudar muito para o estereótipo) , a ajudar o meu amigo! Quando lá chegámos ele explicou o sucedido ainda com as lágrimas a correr pela cara. O responsável pelo apoio médico, “extremamente comovido” com a situação, disse-lhe o seguinte: “Toma lá um pacotinho de açúcar que isso passa!” e deu uma valente gargalhada junto do seu pessoal. Aquele dia não foi dos melhores para o meu amigo, disso tenho a certeza.