terça-feira, junho 27, 2006

o gosto discute-se

“O gosto não se discute”. Quantas e quantas vezes ouvimos esta frase nas nossas vidas? Acho que o exemplo mais notável é a nível cultural. O gosto não se discute? A merda é que não se discute! Vão-me dizer que quem gosta dessas novas bandas feitas às três pancadas tem algum gosto? São essas pessoas que me vão dizer que o gosto não se discute? Basta de ignorância e vamos assumir os nossos gostos! Gostam, tudo bem. Mas porquê? Conseguem explicar? Cada um come do que gosta, mas será que esta desculpa do “gosto não se discute” se vai manter para abafar bandas sem o mínimo de qualidade que se limitam a plagiar e a roubar músicas, ou mesmo o incentivo à violência e à destruição? Esta desculpa ainda pega? Muito sinceramente, se o gosto ainda não se discute, deveria começar a discutir-se! Não para insultar a pessoa, ou para deitá-la abaixo, mas sim para absorver informação e para ouvir uma explicação do porquê. A sério que gostava mesmo de saber as razões que levam as pessoas a irem por tais caminhos (que decerto não serão por motivos sociais como o medo de rejeição em grupos, ou a solidão, longe disso cofcof). Como já disse, cada um come do que gosta...é pena é que só comam o que lhes dão. Isso é que me faz confusão e que me revolta. Podem-me até dizer que aquela música é engraçada e que gostam dela, mas adianto já que é mentira. Aposto que nunca se deu ao trabalho de ir ver a letra, de ver o lamechas e inútil que aquilo é, e que realmente só o é para ganhar dinheiro (que mais?). Passa-se o mesmo com filmes, séries, programas, álbuns, livros e obras de arte. Já é normalissimo (infelizmente) irmos a uma exposição de um artista qualquer e alguém dizer: “Não gosto muito deste artista, prefiro mais o outro” ou “Aquela mancha de tinta e rabiscos? Aquilo também eu fazia!”...pois, mas não o fez, e se não gosta é porque não conhece. Também torço o nariz a muita coisa, mas é normal porque não conheço. É preciso haver uma preparação, uma recolha antes de nos atirarmos de cabeça a algum objecto de cultura. É óbvio que nestas torções de nariz (e é grande) consigo avaliar coisas realmente más, de qualidade medíocre, mas aí sou o primeiro a dizer: “Que merda é esta?”. É claro que não me quero armar em superior nem manipular ninguém (se bem que às vezes....). Concluindo, o meu concelho é Cascais, mas o meu conselho é o seguinte: Comam o que quiserem. Certifiquem-se que não é merda. Vocês vão saber.


PS. Morte aos D’ZRT e afins. Um bem haja.

sábado, junho 24, 2006

ficção, fonte de inspiração

A ficção toma conta de nós e nós seguimos as suas regras sem nos questionarmos. É triste ver que a maioria das pessoas se rege por ideias que os filmes transmitem. Filmes fáceis como comédias românticas servem de exemplo a seguir. O casal que se conhece por puro acaso numa lavandaria, num avião ou qualquer outra ocasião completamente estúpida, acaba sempre por passar grandes momentos junto ao mar, a ver o pôr do sol, ou no parque a rebolar ao som daquelas músicas nojentas que se ouvem vezes e vezes sem conta nas rádios da populaça e da juventude rebelde. Surgem sorrisos, frases e pensamentos muito profundos que surpreendem a rapariga, os beijos são sempre mágicos, e claro, todas as quecas são divinais! As velas estão lá, a cama é gigantesca, o casal é sempre bonito e bem constituído, os orgasmos são de outro mundo, acordam sempre com um sorriso na cara, e lá vão (ela com a camisa dele vestida) tomar um pequeno almoço completo e nutritivo, com muita fruta, cereais, café, leite, torradas e waffles É tão perfeito que até me dá vontade de vomitar. Isto é perfeito demais! As coisas não funcionam assim, e ainda bem. É que todas estas coisas que se fazem nos filmes vão sendo assimiladas pelas raparigas (mais sensíveis e essas coisas todas), e quando um rapaz tenta surpreende-la com algo que lhe deu trabalho, a coisa não resulta. Porquê? Porque ela estava à espera de mais alguma coisa. Como no filme! E se não é como no filme, não é bom e não chega. Deixem-se de merdas, amem como deve ser ou seja, à vossa maneira, e não se deixem levar por filmes mesquinhos e inúteis.

quinta-feira, junho 08, 2006

o flashback mentiroso

A nossa vida é feita de lembranças, sejam elas boas, más, mal cheirosas, gordas ou ásperas. Passamos num sitio e o nosso cérebro transporta-nos logo para uma determinada situação, passada ou não naquele local. É como se voltássemos a reviver o momento, de uma maneira um pouco dispersa a nível de sentidos, mas concreta a nível de sentimentos. Apesar desta falha de sentidos, nomeadamente o olfacto, o tacto, o paladar e a audição, a visão é o único sentido que conseguimos reviver da melhor maneira. Conseguimos imaginar a ponte tal como ela era, ver a cara das pessoas, olhar para o céu que estava azul, resumindo, tudo o que estava ao alcance do nosso campo visual. A questão que fica é a seguinte: Porque é que nos filmes e nas novelas, quando alguém tem um flashback, imagina sempre uma cena já gravada, com a personagem já incluída! Passo a explicar, vemos uma cena em que uma rapariga tropeça numa casa de tremoço, e que vai direitinha ao chão, mas no último segundo um jovem loiro e de olhos azuis consegue agarrar a rapariga, e não a deixa estatelar-se no chão. É aqui que a química desabrocha, os olhares ficam colados um ao outro e com sorte ainda há um beijinho (sem língua). A cena dá lugar a outra, mais tarde a tal rapariga está a limpar o chão do quarto, vê uma casca de tremoço, de repente olha para o infinito: a imagem fica toda branca e qual é o flashback que ela tem? É o nosso flashback! O do nosso campo visual e não do dela! A mesma cena, igualzinha à original! Mas será que ninguém se lembra de filmar o que ela viu realmente? Os olhos dela deviam ser a câmara de filmar, logo devíamos ver um passeio, um tropeçar, um chão e uma casca de tremoço a ficarem mais próximos, um jovem a agarrar e a levantar, e por fim os olhos do rapaz! Por acaso gostava de visualizar as minhas lembranças assim, cheias de ângulos e a ver-me como estava. A culpa é dos tremoços.

sexta-feira, junho 02, 2006

a bela bandeira

Estamos em altura de campeonato do mundo de futebol e como não poderia deixar de ser, a bandeira nacional invadiu janelas, varandas e terraços. Sinceramente não acho muita piada a essa febre, mas também não quero falar disso agora. É um caminho muito fácil e ia acabar por ficar deprimido. Do que quero mesmo falar é da bandeira. Da nossa bandeira! A bandeira que serve para pendurar no estendal, a mesma que fica cinzenta de andar presa no tubo de escape dum automóvel, aquela que fica rasgada e amarelada depois de tanto tempo ao ar livre, a tal bandeira que é puxada e atirada ao chão depois de uma inauguração de uma estátua ou instituição. Normalmente as bandeiras são bastante simples, duas ou três cores e acabou. Não digo que sejam bonitas, mas comparadas à portuguesa conseguem dar-me um sorriso na cara. Adiante, a nossa bandeira é feia. Ninguém pode dizer o contrário. É um facto. O vermelho e o verde não combinam. Dizem que o vermelho representa o sangue derramado em batalhas, mas será necessário aquele vermelho? Verde é a cor da esperança, e essa é a última a morrer...mas também morre. O brasão de armas de Portugal também não tem futuro nenhum...a esfera armilar é muito complexa, o escudo português contém cinco escudetes azuis com bolinhas brancas e à volta deste estão os sete castelos amarelinhos em fundo vermelho, que em nenhuma bandeira são iguais! Já vi castelos que se parecem com templos chineses. Uma bandeira verdadeiramente portuga que faz lembrar um belo cozido à portuguesa, cheio de coisas que não combinam umas com as outras...bem, a diferença é que o cozido resulta no fim.