terça-feira, abril 28, 2009

memória mínima


Grande parte da minha infância passei-a na quinta dos meus avós, a correr, a andar de bicicleta, a jogar à bola, a rasgar joelhos, a subir às árvores, a apanhar fruta, a ver o meu avô na garagem de volta das suas mecânicas ou a ver a minha avó a descascar favas e ervilhas. São memórias bem vincadas, quase como se tivessem sido vividas ontem. Há outras memórias que se vão apagando e desfazendo, mas que, graças ao poder do inconsciente, conseguimos reavê-las, nem que seja num formato mínimo. Ontem aconteceu-me isso, e soube bem. Vi esta imagem e fiquei vidrado nela. O cérebro começou a remexer, a pesquisar, e veio-me à cabeça uma memória que eu já julgava extinta. Nos dias em que chegava bastante cedo aos meus avós, e esperava pelos meus primos, ligava-me à minha amiga colorida com esperança de ver alguns desenhos animados. Infelizmente era cedo demais para desenhos animados...ou outra coisa qualquer. Então limitava-me a olhar para esta imagem. E olhava e olhava e olhava, até que começava a fazer jogos com ela. Lembro-me de escolher uma barra de cor, e imaginava-me a virá-la e a ver o que estava por trás. Uma espécie de "quantos-queres" interactivo. Talvez fosse a moca do sono, talvez fosse a imaginação fresquinha pela manhã, o que é certo é que aquilo era divertido à brava. Depois acabava-se tudo e vinham os desenhos animados. E depois dos desenhos animados vinham os meus primos. E isso é que era bom.

terça-feira, abril 21, 2009

red alert

Se há coisas que eu gosto de recordar da escola primária são: o elogio da professora aos meus desenhos; mexer na plasticina; jogar ao berlinde no recreio; fazer ditados; ouvir o Hélder a ler um texto...e a pontuação ("o João foi à escola vírgula e fez uma composição ponto final parágrafo"). Se há coisas que eu não gosto de recordar da escola primária são: os puxões de orelhas da professora; ir ao quadro; pedir à professora para ir à casa-de-banho; levar porrada no recreio; não poder escrever com tinta vermelha. Sempre achei esta última a maior parvoíce de todas... não porque não faça sentido, porque até faz, visto que o vermelho é a cor com que os professores (geralmente) corrigem os ditados, composições, cópias, exercícios e por aí a fora. O que me irrita é que a malta adulta nos dizia que não podiamos escrever a vermelho porque significava que estavamos a mandar a pessoa à merda. Era expressamente proíbido escrever com tinta vermelha, pois seria uma ofensa para a professora. Por causa desta piadinha de mau gosto por parte dos adultos, lembro-me de sofrer horrores cada vez que utilizava a tinta vermelha em mais de uma linha seguida! Os colegas do lado olhavam, avisavam-me que eu não podia, que iria ser expulso da escola, ser julgado e punido com vários castigos, e talvez chegasse à pena de morte. É claro, eu lá me assustava e toca de apagar com a borrachinha azul (especial para canetas e que arranhava tipo cimento). Agora que olho para trás, gostava de ter escrito mais a vermelho, isto porque há sempre alguém que merece ir à merda.