quinta-feira, julho 02, 2009

saliva agressiva

Se há coisa que detestamos é ter algo na cara e ninguém dizer nada. Andamos a manhã toda com aquela ramela amarelada no canto do olho, com o macaquinho à espreita na narina esquerda, com uma crostazita pendurada, ou com saliva seca no canto da boca. Para evitar estes pequenos embaraços inventaram-se os espelhos, onde podemos passar um bom bocado a tratar da nossa higiene facial. Mas isto é quando temos altura para isso. Lembro-me de ser criança, de lavar a cara e os dentes a despachar, e toca a andar para a rua. Na altura não me preocupava com essas coisas. Era criança, e os espelhos para mim não faziam muito sentido, ou pelo menos não os utilizava assim tanto. O pior vinha depois. O poder da censura higiénica parental. Detestava quando a minha mãe se armava em lavatório e me tentava limpar qualquer coisa da cara. Uma esfregadela com o dedo ou com a mão e normalmente era o suficiente...a desgraça era mesmo se essa esfregadela não resultava. Toca de molhar o dedo na boca e de me esfregar os olhos, o canto da boca e as orelhas com saliva. Eu esperneava, esbracejava e tentava a todo o custo uma fuga rápida. Em vão claro. Naquela altura a minha mãe era forte. No fim do massacre ela sorria triunfante. Eu quase que vomitava com o cheiro a saliva maternal. No fim de contas, fico feliz por não ter nascido gato.