sábado, janeiro 23, 2010

a crise

Fala-se de crise a toda a hora. É natural, o mundo sofreu um abalo e Portugal naturalmente não escapou. O mal destas crises económicas, é que Portugal é o país da saudade, do choradinho e do negativismo pegado. E estes valores já fazem parte do português. É algo que nasce connosco. Queixamo-nos de tudo o que vemos, criticamos todos os políticos (sejam eles bons ou maus), vivemos no pior país de todos os tempos, e o problema foi e irá ser sempre o mesmo: a crise. Para mim, esta crise é de valores. É óbvio que Portugal tem os seus problemas (desemprego, corrupção, pobreza, entre outros), mas também é evidente que é um país com um potencial enorme, rico na cultura, nos lugares e nas pessoas. Quer queiramos, quer não, estivemos 40 anos a brincar às ditaduras, e isso sente-se no nosso povo, todos os dias. Sinto que o grande problema de Portugal são os portugueses. Chicos-espertos de nível 5, são eles que durante a semana falam constantemente da crise, dos políticos podres que governam, dos preços altissímos das coisas, mas que durante o fim de semana fazem uma pausa da crise, e vão até aos shoppings com a família, nos seus automóveis classe A bem atestados, ver um filme no cinema (com direito a pipocas e coca-cola XL), que ficam conformados para o resto da semana se o seu clube ganhar nesta jornada, e que gastam fortunas em novos gadgets que basicamente têm o mesmo efeito de um Action Man ou Barbie nas mãos de uma criança. Para ser sincero estou farto (até à ponta da gaita) desta "gentinha", que se queixa da crise a toda a hora. O cenário piora no campo laboral e profissional. As empresas colocam os estagiários que conseguirem, e tentam que eles trabalhem tanto ou mais que um efectivo ou senior, pagando-lhes uns míseros trocos. A estes eu gosto de chamar patrões-de-meia-tigela-que-vêem-na-crise-uma-excelente-oportunidade-de-chular-trabalhadores-e-de-ganhar-uma-boa-massa-com-isso. Depois vem a conversa do costume: "Temos que fazer um esforço. A empresa está muito mal. Temos que fazer mais horas por dia, fazer noitadas e fins de semana. A crise afectou-nos. A crise é má". A grande diferença é que a crise para estas pessoas é ficarem sem uma empregada que lhes limpe a casa e o cúzinho, enquanto a minha crise é ficar sem dinheiro ao fim do mês (e não me queixo nem metade).
Fico triste porque vejo o país a voltar atrás e a afundar-se em si próprio. Vejo que existem pessoas cheias de talento, que são imediatamente excluidas por pedirem um ordenado decente, e por outro lado vejo pessoas que são um zero a desempenharem funções de um verdadeiro profissional. É natural que as empresas não resistam à crise. Prefere-se o desenrasca e o barato ao criativo e profissional. Portugal está a entrar num sistema de escravatura (bem disfarçada pela crise) e vai piorando de dia para dia.
Ao apostarmos em maus profissionais, ao perseguirmos os políticos de uma maneira doentia e agressiva, ao sermos bestas uns para os outros no trânsito, ao conformarmo-nos com a crise e com as vitórias do nosso glorioso, estamos a levar o país para o 3º mundo, contra ventos e marés...como um bom português sempre o fez.
É preciso engolir muitos sapos, é preciso ultrapassar de vez o grande fosso da ditadura, é preciso coragem e ousadia, é preciso ser inovador e de mente aberta, é preciso a mulher ser livre e poder decidir se quer ter um filho ou não, é preciso que os homosexuais casem e adoptem, é preciso políticos que arrisquem e que não tenham medo de falhar (porque falhar é do melhor que há), é preciso eliminar o preconceito, é preciso que os portugueses se deixem de negativismo e de depressões, é preciso olhar para o maravilhoso país que temos, é preciso mudar. Urgentemente.