sexta-feira, setembro 23, 2005

nos funerais não há croquetes

O Sr. Armando estava na sua habitual corrida matinal, quando de repente deu-lhe um aperto no coração, os olhos quase que saíram para fora e o pescoço encheu-se de veias. O Sr. Armando caiu no chão e morreu ali. A partir daqui o Sr. Armando tornou-se mais conhecido e numa melhor pessoa. Cada vez que alguém morre, existe sempre um grupo grande de pessoas que gostam de dizer o quanto eram amigas do Sr. Armando. " Coitadinho do Armando pá.. ele era tão boa pessoa!" (Pode ter sido um verdadeiro filho da mãe, mas agora que está morto convém dizer que era uma jóia de pessoa). "Epá, ainda no outro dia estive com ele na fila do supermercado!" (Com ele e com mais 7 ou 8 pessoas.. qualquer uma podia ter morrido). "Eu conhecia-o há uns 5 ou 6 anos" (Parabéns...). Enfim, frases deste tipo ouvem-se, tornando-se numa competição. Podíamos não conhecer nada de nada do defunto, mas agora parece que já somos da família. Parece que falamos dos mortos só mesmo para dizer que o conhecíamos, e que falávamos com ele! "Aquele viu o morto no outro dia? Então...eu vi-o ontem a passar na camioneta, GANHEI, toma toma!".
Passa-se exactamente a mesma coisa com pessoas conhecidas. Temos necessidade de dizer a toda a gente que já demos passagem ao carro do actor X ou Y, ou que já falamos com o apresentador Z.
Os mortos estão mortos e agora é tarde para dizer-lhes o que pensávamos deles. Se falámos com ele ontem ou anteontem não interessa! Falamos com pessoas todos os dias e qualquer uma pode ser a próxima. Nos funerais não existem croquetes por isso deixem-se disso.

quinta-feira, setembro 15, 2005

tudo bem?

Acordo de manhã, levanto-me, vou à casa de banho, como o pequeno almoço e saio de casa. Lá ao fundo vem aquela pessoa que conhecemos há alguns anos, mas nunca conversamos a sério, nem temos grande intimidade para isso. Cruzamos um olhar ao longe, e de seguida baixamos a cabeça até nos cruzarmos lado a lado. Aqui levantamos a cabeça, damos um sorriso amarelo e perguntamos: "Tudo bem?" em simultâneo, e seguimos os nossos caminhos sem grandes preocupações e com esperança de não encontrar mais alguém daquele tipo. Um dia destes vou mudar isto, só mesmo para ver a reacção da pessoa. Ela pergunta-me: "Tudo bem?"...e eu em vez de dizer "Tudo bem?" digo algo do género: "Nem por isso. Agora que falas nisso está tudo mal! Acordei mal disposto, fartei-me de vomitar, estou de diarreia, a unha encravada do pé não ajuda nada, e o meu cagado morreu esta madrugada! E contigo, está tudo bem?". Ahahahah, havia de ser bonito! A pessoa tinha de ficar ali especada à espera que eu lhe explicasse a minha vida toda. Se calhar era capaz de dar resultado... quando a pessoa me visse ao longe mudava logo de direcção ou escondia-se numa loja qualquer a pensar: "Oh não, lá vem o maluquinho que não se consegue ficar com um 'tudo bem?'"

segunda-feira, setembro 12, 2005

a pinha que caiu

Era uma vez um menino de 6 anos que tinha uma daquelas piscinas insufláveis no quintal. Este tinha uma zona de relva e outra com pinheiros. O pai do menino resolveu colocar a piscina debaixo dos pinheiros para fazer sombra, mas não sabia que ao fazer isto iria mudar completamente o futuro do menino...
Numa quente tarde de verão só se ouviam as mãos da criança a chapinhar na água da piscina. Fazia-se sentir uma brisa, suficiente para agitar os pinheiros. O menino continuava a brincar cá em baixo, com um enorme sorriso de orelha a orelha. Se há momentos de felicidade, aquele era um deles! Era tudo perfeito...mas de um momento para o outro tudo mudou. O vento desta vez agitou bastante o pinheiro e lá de cima caiu uma pinha. O menino assustado com o uivar do pinheiro, olhou para cima e abriu a boca... a pinha entrou violentamente na boca do menino, ficando presa na garganta. A criança não podia gritar e estava a sufocar. O pai, que estava na garagem a colocar as jantes novas no carro, estranhou o silêncio e correu de imediato para o quintal. Ficou abismado com o sucedido. Correu até ao filho, apertou-lhe a garganta e espremeu-a até a pinha sair. O menino não chorou, nem sequer berrou...estava branco como papel e foi agarrar-se ao patinho de borracha que tinha ganho numa promoção de uns cereais.
O menino cresceu e tornou-se num rapaz forte e bastante inteligente. Estava na faculdade a tirar o curso de engenharia e só lhe faltavam alguns meses para termina-lo. Certo dia acabou as aulas e veio de autocarro, como era costume, até casa. Ao sair do autocarro olhou para o quintal, que só tinha relva pois os pinheiros tinham sido cortados semanas após a tragédia, e ficou com um olhar estranho. A tragédia estava-lhe a passar perante os seus olhos, parecia que estava a reviver aquele momento! O jovem assustado deu dois passos atrás, pôs as mãos na cara e começou a chorar. Ainda a lágrima não tinha corrido a cara toda, o rapaz ouviu um buzinão e de repente ficou tudo preto. O autocarro da escola tinha-lhe passado por cima e o jovem morreu. Moral da história: As piscinas não se põem debaixo dos pinheiros, e ao darem dois passos para trás certifiquem-se que não vem nenhum autocarro da escola. Paz.

domingo, setembro 11, 2005

meu querido domingo

Hoje é domingo............................podia acabar este texto aqui, e o domingo estava falado. Mas para ocupar mais espaço vou falar das coisas que caracterizam este dia tão estúpido e dispensável. É o dia em que as avós, mães e filhos se levantam mais cedo para ir à missa; é o dia em que os pais saem à rua e erguem os seus fatos de treino tricolores junto dos amigos que já estão no café a beber martinis e minis; é o dia em que os pais passam grande parte da manhã a passear de mercearia em mercearia à procura do almoço; é o dia do grande churrasco em família; é o dia em que só dão filmes estúpidos para toda a família na televisão; é o dia de ir dar a voltinha dos tristes à serra de Sintra e ao Guincho; é o dia em que se ligam as telefonias e se ouve o relato do futebol, o desporto rei; é o dia em que o jantar é só um petiscozinho; é o dia em que vamos para a cama cedo porque segunda feira é já amanhã e há trabalho. Resumindo...o domingo é um dia diferente dos outros, mas o que poderia ser bom torna-se no mau. Se eu pudesse hibernava todos os domingos, passava de sábado para segunda, ou então arranjava outro nome para o domingo. Eu não consigo ir à praia no domingo, só de pensar que está cheia de gente. Prefiro ficar em casa a queimar pestanas em frente a um monitor e a escrever textos estúpidos. Essa é que é essa. É claro que daqui a uns anos, quando eu trabalhar que nem um escravo, vou implorar a deus-nosso-senhor-todo-poderoso-milagroso-e-fofinho que me dê muitos e muitos domingos, para poder aproveitar o tempo com a familia, ir à missa, ouvir o relato da bola, dar a voltinha dos tristes, etc. etc....O que me vale é que as bananas não têm caroço e são fáceis de descascar.

sexta-feira, setembro 09, 2005

anda cá que eu já te digo!

Depois de uma longa pesquisa e de um intenso estudo, concluí que os pais ao darem o segundo nome no nome aos filhos têm como intenção dominá-los, imobilizando-os rapidamente e sem qualquer tipo de contacto físico. É como se tocassem no seu ponto fraco, vejamos: O Luís cujo nome completo é Luís Filipe Açorda de Marisco, está muito bem no seu quarto a ouvir música em altos berros (bonita expressão), e a sua mãe Laurinda está na cozinha com o jantar quase pronto. Nesta altura ela chama-o para ir por a mesa: "Luís, anda por a mesa!". O Luís ouviu qualquer coisa, mas não se dá ao trabalho de baixar o volume. Mais uma vez a mãe chama-o, mas desta vez em alta voz: "LUIS, ANDA POR A MESA JÁ TE DISSE!". O Luís percebeu claramente o que a mãe lhe disse, mas mesmo assim ignora-a, preferindo ouvir a harmoniosa voz do vocalista metaleiro que se farta de berrar. A mãe pousa a colher de pau (sorte para o Luís), desliga o bico do fogão, vai direito ao quarto, abre a porta e aqui diz as palavras mágicas: "LUIS FILIPE, vai imediatamente por a mesa, já te disse!". Sem nada a fazer o pequeno Luís baixa a cabeça e caminha em passos lentos para a mesa. É incrível o poder que o segundo nome tem sobre nós. Ele só existe para os pais refilarem connosco e nos mandarem fazer coisas! Eles só os utilizam nestas alturas de maior tensão ou nas etiquetas das prendas de natal. E realmente nada podemos fazer, somos obrigados a fazer o que eles querem. Esta é a lei.
No meu caso é diferente. Visto que não tenho segundo nome, este é substituído por uma colher de pau ou por uma simples chapada. O método também é bastante eficaz e produtivo. Mal oiço "Ricardo vem cá ou vai lá", eu já estou cá ou lá.