
Grande parte da minha infância passei-a na quinta dos meus avós, a correr, a andar de bicicleta, a jogar à bola, a rasgar joelhos, a subir às árvores, a apanhar fruta, a ver o meu avô na garagem de volta das suas mecânicas ou a ver a minha avó a descascar favas e ervilhas. São memórias bem vincadas, quase como se tivessem sido vividas ontem. Há outras memórias que se vão apagando e desfazendo, mas que, graças ao poder do inconsciente, conseguimos reavê-las, nem que seja num formato mínimo. Ontem aconteceu-me isso, e soube bem. Vi esta imagem e fiquei vidrado nela. O cérebro começou a remexer, a pesquisar, e veio-me à cabeça uma memória que eu já julgava extinta. Nos dias em que chegava bastante cedo aos meus avós, e esperava pelos meus primos, ligava-me à minha amiga colorida com esperança de ver alguns desenhos animados. Infelizmente era cedo demais para desenhos animados...ou outra coisa qualquer. Então limitava-me a olhar para esta imagem. E olhava e olhava e olhava, até que começava a fazer jogos com ela. Lembro-me de escolher uma barra de cor, e imaginava-me a virá-la e a ver o que estava por trás. Uma espécie de "quantos-queres" interactivo. Talvez fosse a moca do sono, talvez fosse a imaginação fresquinha pela manhã, o que é certo é que aquilo era divertido à brava. Depois acabava-se tudo e vinham os desenhos animados. E depois dos desenhos animados vinham os meus primos. E isso é que era bom.