segunda-feira, janeiro 02, 2006

run Forrest, run

nunca gostei de ginástica e aulas de educação física ...talvez porque as experiências que tive não foram das melhores...calções gigantescos para os lados, mas curtinhos para baixo, uma enorme t-shirt na qual o logotipo da escola ficava-me na barriga em vez de ser no peito. As inúmeras voltas que dei à escola, às 8 da manhã, com frio e com chuva. O corta-mato, esse grande evento no qual participavam dois tipos de concorrentes: os que queriam ir, e o que não queriam ir (mas que eram obrigados). Eu fazia parte deste último grupo e era daqueles que só lá estavam para encher. Lembro-me do meu primeiro corta-mato...arranquei ao lado de um amigo meu, e até estávamos confiantes, apesar do frio que se fazia sentir! Quem sabe se não chegaríamos ao fim!!!...Fiquei a saber na primeira volta. Não chegámos ao fim. Íamos bem colocados, bem demais para ser franco, quando nos aproximámos de um carreiro bastante estreito, lamacento e escorregadio. De um lado a grade da escola, do outro uma ravina cheia de arbustos e ervas daninhas. Abrandámos o passo, mas não foi suficiente para evitar a queda do meu amigo. Deu um mergulho de cabeça naquela piscina de lama. O meu primeiro instinto, como bom camarada que era, foi parar e ajudá-lo a levantar, para seguirmos em frente, mas quando olhei para trás vi uma manada de tipos enormes, a gritarem que nem umas bestas e ainda por cima o fato da ginástica assentava-lhes como uma luva! É claro que o meu instinto de camaradagem foi por água abaixo, dando lugar ao instinto de sobrevivência! Encostei-me à grade e assisti ao atropelamento do meu amigo. Já não bastava o rapaz estar ali deitado todo sujo de lama, e tinha de levar com umas 80 pisadelas nas costas, pernas e cabeça. O comboio lá passou e lá tentei socorrer, o que sobrava, do desgraçado. Ele chorava baba, ranho...e lama. Lá se levantou e fomos ao encontro da barraquinha das urgências, improvisada ali no meio do campo de futebol. Eu sentia-me um herói (apesar do fato XL de ginástica não ajudar muito para o estereótipo) , a ajudar o meu amigo! Quando lá chegámos ele explicou o sucedido ainda com as lágrimas a correr pela cara. O responsável pelo apoio médico, “extremamente comovido” com a situação, disse-lhe o seguinte: “Toma lá um pacotinho de açúcar que isso passa!” e deu uma valente gargalhada junto do seu pessoal. Aquele dia não foi dos melhores para o meu amigo, disso tenho a certeza.

3 comentários:

Anónimo disse...

por acaso tambem nunca foi muito fã da competição, gosto mais de fazer por prazer :D, coitado do jovem...

Anónimo disse...

genial... simplesmente genial... pa nem consigo comentar, foi a melhor gargalhada de 2006, isso é certo


-Vasco

Anónimo disse...

Aposto que esse dia ficou bem marcado na memória do teu amigo... e tu também! No caso dele não se lembrar do teu nome, és o rapaz dos calções XL que o tentou ajudar e, provavelmente, o único que não se riu da situação! :) ***