sexta-feira, agosto 24, 2012

Um canhão pelo cú


14 de Agosto de 2012. "Um canhão pelo cú" e "As relações impossíveis: Economia real- Economia financeira", eram os dois títulos do texto que Juan José Millas publicava na secção de cultura do El Pais. Em poucos dias  tornou-se viral: 19000 shares no Facebook, 15 mil tweets, um país indignado. 
 

Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.
Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.
Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.
Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.
A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.
Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.
E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.
Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.
A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.
A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.
Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.
Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.
Juan José Millas
in  
Dinheiro Vivo
 

sexta-feira, março 09, 2012

quinta-feira, março 08, 2012

Paxaxa com X.


Os pinguins estão a hibernar há muito tempo. 
E só voltam ao activo quando tiverem realmente algo de bom para partilhar.
Visitai este blog badalhoco por enquanto.

sábado, janeiro 23, 2010

a crise

Fala-se de crise a toda a hora. É natural, o mundo sofreu um abalo e Portugal naturalmente não escapou. O mal destas crises económicas, é que Portugal é o país da saudade, do choradinho e do negativismo pegado. E estes valores já fazem parte do português. É algo que nasce connosco. Queixamo-nos de tudo o que vemos, criticamos todos os políticos (sejam eles bons ou maus), vivemos no pior país de todos os tempos, e o problema foi e irá ser sempre o mesmo: a crise. Para mim, esta crise é de valores. É óbvio que Portugal tem os seus problemas (desemprego, corrupção, pobreza, entre outros), mas também é evidente que é um país com um potencial enorme, rico na cultura, nos lugares e nas pessoas. Quer queiramos, quer não, estivemos 40 anos a brincar às ditaduras, e isso sente-se no nosso povo, todos os dias. Sinto que o grande problema de Portugal são os portugueses. Chicos-espertos de nível 5, são eles que durante a semana falam constantemente da crise, dos políticos podres que governam, dos preços altissímos das coisas, mas que durante o fim de semana fazem uma pausa da crise, e vão até aos shoppings com a família, nos seus automóveis classe A bem atestados, ver um filme no cinema (com direito a pipocas e coca-cola XL), que ficam conformados para o resto da semana se o seu clube ganhar nesta jornada, e que gastam fortunas em novos gadgets que basicamente têm o mesmo efeito de um Action Man ou Barbie nas mãos de uma criança. Para ser sincero estou farto (até à ponta da gaita) desta "gentinha", que se queixa da crise a toda a hora. O cenário piora no campo laboral e profissional. As empresas colocam os estagiários que conseguirem, e tentam que eles trabalhem tanto ou mais que um efectivo ou senior, pagando-lhes uns míseros trocos. A estes eu gosto de chamar patrões-de-meia-tigela-que-vêem-na-crise-uma-excelente-oportunidade-de-chular-trabalhadores-e-de-ganhar-uma-boa-massa-com-isso. Depois vem a conversa do costume: "Temos que fazer um esforço. A empresa está muito mal. Temos que fazer mais horas por dia, fazer noitadas e fins de semana. A crise afectou-nos. A crise é má". A grande diferença é que a crise para estas pessoas é ficarem sem uma empregada que lhes limpe a casa e o cúzinho, enquanto a minha crise é ficar sem dinheiro ao fim do mês (e não me queixo nem metade).
Fico triste porque vejo o país a voltar atrás e a afundar-se em si próprio. Vejo que existem pessoas cheias de talento, que são imediatamente excluidas por pedirem um ordenado decente, e por outro lado vejo pessoas que são um zero a desempenharem funções de um verdadeiro profissional. É natural que as empresas não resistam à crise. Prefere-se o desenrasca e o barato ao criativo e profissional. Portugal está a entrar num sistema de escravatura (bem disfarçada pela crise) e vai piorando de dia para dia.
Ao apostarmos em maus profissionais, ao perseguirmos os políticos de uma maneira doentia e agressiva, ao sermos bestas uns para os outros no trânsito, ao conformarmo-nos com a crise e com as vitórias do nosso glorioso, estamos a levar o país para o 3º mundo, contra ventos e marés...como um bom português sempre o fez.
É preciso engolir muitos sapos, é preciso ultrapassar de vez o grande fosso da ditadura, é preciso coragem e ousadia, é preciso ser inovador e de mente aberta, é preciso a mulher ser livre e poder decidir se quer ter um filho ou não, é preciso que os homosexuais casem e adoptem, é preciso políticos que arrisquem e que não tenham medo de falhar (porque falhar é do melhor que há), é preciso eliminar o preconceito, é preciso que os portugueses se deixem de negativismo e de depressões, é preciso olhar para o maravilhoso país que temos, é preciso mudar. Urgentemente.

sábado, outubro 03, 2009

três é demais

É impressão minha, ou nos últimos tempos as pessoas resolveram adoptar mais um nome? Exemplifiquemos com alguém fictício: a Joana Pereira, agora é Joana Alves Pereira. Isto só porque sim. Acredito que seja uma fase, tal como a crise, e que todos voltem a simplificar os nomes muito em breve. Se não é moda, é porque o país está a virar à direita, isto porque as pessoas de direita é que gostam de usar três nomes. Ou então não passa de pura parvoíce, e é só um jogo para as pessoas se sentirem mais ricas, mais importantes e mais "finas".
Há ainda a hipótese da emancipação das mães, que agora querem lutar pela colocação e reconhecimento do seu nome de família, no nome dos filhos. Se a moda pega, voltaremos à monarquia com certeza, e a Joana Pereira, que agora é Joana Alves Pereira, vai ter netos com mais de uma dúzia de nomes.
Outra coisa chata nesta gente, é que fazem questão de dar importância a três nomes no próprio e-mail. Resultado, a-gente-dos-dois-nomes perde tempo a escrever mails à gente-dos-três-nomes.
As pessoas complicam demais com esta história do nome. Quando estamos para parir um filho é um vê-se-te-avias para lhe etiquetar o nome próprio, se entra um da mãe, dois do pai ou dois da mãe e um do pai... Depois saimos cá para fora e temos um nome. Depois vamos para a escola primária e todos nos tratam por dois nomes (é ver as crianças a dizer: "Oh mãe da Joana Pereira!". Depois vamos para o ciclo e secundária e das duas uma: ou levamos com uma alcunha, ou ficamos só com um nome. Depois há quem nos chame só pelo apelido. E depois, há quem regresse ao modo feto e volta a ter três nomes. Complica-se mais uma vez.
Uma coisa é certa, se este movimento dos três nomes dá mais prestígio à pessoa então vou-me deixar levar, porque este nome de gente pobre e de famílias pouco nobres e mal formadas não me leva a lado nenhum.

Cumprimentos, Ricardo Xavier de Antunes.

quinta-feira, agosto 27, 2009

medo de mudar

Vi o programa da manhã e começo a achar piada ao João Baião.

quinta-feira, julho 02, 2009

saliva agressiva

Se há coisa que detestamos é ter algo na cara e ninguém dizer nada. Andamos a manhã toda com aquela ramela amarelada no canto do olho, com o macaquinho à espreita na narina esquerda, com uma crostazita pendurada, ou com saliva seca no canto da boca. Para evitar estes pequenos embaraços inventaram-se os espelhos, onde podemos passar um bom bocado a tratar da nossa higiene facial. Mas isto é quando temos altura para isso. Lembro-me de ser criança, de lavar a cara e os dentes a despachar, e toca a andar para a rua. Na altura não me preocupava com essas coisas. Era criança, e os espelhos para mim não faziam muito sentido, ou pelo menos não os utilizava assim tanto. O pior vinha depois. O poder da censura higiénica parental. Detestava quando a minha mãe se armava em lavatório e me tentava limpar qualquer coisa da cara. Uma esfregadela com o dedo ou com a mão e normalmente era o suficiente...a desgraça era mesmo se essa esfregadela não resultava. Toca de molhar o dedo na boca e de me esfregar os olhos, o canto da boca e as orelhas com saliva. Eu esperneava, esbracejava e tentava a todo o custo uma fuga rápida. Em vão claro. Naquela altura a minha mãe era forte. No fim do massacre ela sorria triunfante. Eu quase que vomitava com o cheiro a saliva maternal. No fim de contas, fico feliz por não ter nascido gato.

quarta-feira, junho 24, 2009

sorry boys

Numa altura em que a emancipação gay está no seu auge, sinto que tenho de prestar um discurso ao povo. A todo o bichedo que anda por este mundo a pensar que sou maricas, um pedido de desculpas. Não, não gosto de pila, nem nunca tive curiosidade em experimentar. Sei que existem algumas coisas em mim que podiam fazer de mim maricas, mas aviso desde já que isso tudo é fruto dum erro de gestação. Provavelmente nasci para pertencer ao género "bicharéu", mas houve algo que falhou desastrosamente. Passo a explicar: Prefiro ping-pong ao futebol, fui para artes, gosto de me ver vestido com cores, quando abro o capot do meu carro só sei identificar o coisinho da água para os vidros, não tenho fantasias sexuais com duas lésbicas de volta da minha pila, bricolage para mim é algo perigoso e coisa para não me aventurar, bato sempre o pézinho quando oiço música meio abichanada, adoro dançar feita maluca, imito (assustadoramente) bem diversos tipos de panascas, chorei na eurodisney quando vi o Mickey...tiha 18 anos, choro quando o ET e o Elliot levantam voo, choro quando o pai do Simba morre, não acho piada a revistas de gajas jeitosas e desnudas, e a pior de todas...faço xixi sentado. O curioso é que apesar disto tudo não me sinto minimamente afectado com a doença das bichas, e sou feliz ao lado da minha namorada...que era bastante maria-rapaz quando era mais tenrinha.

terça-feira, abril 28, 2009

memória mínima


Grande parte da minha infância passei-a na quinta dos meus avós, a correr, a andar de bicicleta, a jogar à bola, a rasgar joelhos, a subir às árvores, a apanhar fruta, a ver o meu avô na garagem de volta das suas mecânicas ou a ver a minha avó a descascar favas e ervilhas. São memórias bem vincadas, quase como se tivessem sido vividas ontem. Há outras memórias que se vão apagando e desfazendo, mas que, graças ao poder do inconsciente, conseguimos reavê-las, nem que seja num formato mínimo. Ontem aconteceu-me isso, e soube bem. Vi esta imagem e fiquei vidrado nela. O cérebro começou a remexer, a pesquisar, e veio-me à cabeça uma memória que eu já julgava extinta. Nos dias em que chegava bastante cedo aos meus avós, e esperava pelos meus primos, ligava-me à minha amiga colorida com esperança de ver alguns desenhos animados. Infelizmente era cedo demais para desenhos animados...ou outra coisa qualquer. Então limitava-me a olhar para esta imagem. E olhava e olhava e olhava, até que começava a fazer jogos com ela. Lembro-me de escolher uma barra de cor, e imaginava-me a virá-la e a ver o que estava por trás. Uma espécie de "quantos-queres" interactivo. Talvez fosse a moca do sono, talvez fosse a imaginação fresquinha pela manhã, o que é certo é que aquilo era divertido à brava. Depois acabava-se tudo e vinham os desenhos animados. E depois dos desenhos animados vinham os meus primos. E isso é que era bom.

terça-feira, abril 21, 2009

red alert

Se há coisas que eu gosto de recordar da escola primária são: o elogio da professora aos meus desenhos; mexer na plasticina; jogar ao berlinde no recreio; fazer ditados; ouvir o Hélder a ler um texto...e a pontuação ("o João foi à escola vírgula e fez uma composição ponto final parágrafo"). Se há coisas que eu não gosto de recordar da escola primária são: os puxões de orelhas da professora; ir ao quadro; pedir à professora para ir à casa-de-banho; levar porrada no recreio; não poder escrever com tinta vermelha. Sempre achei esta última a maior parvoíce de todas... não porque não faça sentido, porque até faz, visto que o vermelho é a cor com que os professores (geralmente) corrigem os ditados, composições, cópias, exercícios e por aí a fora. O que me irrita é que a malta adulta nos dizia que não podiamos escrever a vermelho porque significava que estavamos a mandar a pessoa à merda. Era expressamente proíbido escrever com tinta vermelha, pois seria uma ofensa para a professora. Por causa desta piadinha de mau gosto por parte dos adultos, lembro-me de sofrer horrores cada vez que utilizava a tinta vermelha em mais de uma linha seguida! Os colegas do lado olhavam, avisavam-me que eu não podia, que iria ser expulso da escola, ser julgado e punido com vários castigos, e talvez chegasse à pena de morte. É claro, eu lá me assustava e toca de apagar com a borrachinha azul (especial para canetas e que arranhava tipo cimento). Agora que olho para trás, gostava de ter escrito mais a vermelho, isto porque há sempre alguém que merece ir à merda.

quarta-feira, março 11, 2009

adeus tio

Sempre me considerei um sortudo em ter uma família como a minha. Somos amigos, somos unidos, somos família como todas deveriam ser. Sempre achei que fossemos intocáveis, perfeitos e felizes. O ideal de família foi-me transmitido da melhor maneira pelas melhores pessoas. Crescer e aprender com eles fazem de mim a pessoa que sou. E estou grato por isso. Amo os meus primos, amo os meus tios e tias, amo os meus pais, irmã e avós. Hoje foi um dia triste. Mais uma despedida precipitada. E isso dói que se farta. Dói a valer. Perder um pilar da família é dos sentimentos mais estranhos que posso ter. A família feliz, amiga, unida, intocável é abalada pela lei da vida. Sabemos que é assim. As pessoas nascem para morrer. Tudo bem, aceito. O que me fode a cabeça é perder um tio tão novo. E o que me fode ainda mais a cabeça é que não podemos fazer absolutamente nada contra isso. Sabemos da notícia e resta-nos esperar. E durante esta espera desesperamos. Ele está ali...mas já não o olhamos normalmente. Olhamos já com saudade. Com uma tristeza gigantesca. Com esperança. (In)felizmente esta espera, apesar de dolorosa, foi rápida. E o tio Luís já não volta. E a família fica mais pobre. Uma pessoa com um enorme coração, humilde, prestável, lutador, Amigo. Uma pessoa especial para nós. Para mim. Lá se vão os calduços na careca do Padreco, lá se vão as amoras do Picha Gorda, lá se vão as massagens nas nossas orelhas do tio Luís. E que saudades que vou sentir tuas...

"A amizade não se faz...constrói-se"
"Devagarinho aos remos que o mar está encrespado"

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

projecto falhado

Numa era onde a velocidade é tudo, o mundo também se apressa a acabar. O fim do mundo está assustadoramente mais perto, e depois de tantas e tantas vírgulas o ponto final chegará. Com isto podemos concluir que: Ou Deus se reforma e tem como destino um universo paradisíaco, ou declara falência, visto que a clientela acabou...de vez.
Outro que vai ter que encerrar actividade é o desgraçado do Diabo. Apesar de provavelmente ter a maior enchente de sempre (o que poderia ser positivo a nível de lucros) não vai conseguir dar conta do recado. Tem duas hipóteses então: ou o Diabo continua com merdas sadomasoquistas e castigos às pobres almas, ou aproveita a maré de gente e organiza um festival do caralho...todos os dias.
A Terra ficará deserta de almas, com corpos a apodrecer, à espera que milhões e milhões de anos passem até que nasça uma nova espécie, mais inteligente, mais humilde e melhor que a nossa.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

true romance

A todos os que ainda duvidam, sim, estou muito apaixonado, feliz, cheio de novos objectivos, determinado, com força, motivado, com vontade de viver. Não estou hipnotizado ou algo do género, estou consciente e com os pés bem assentes na terra. É isto que eu quero. Viver, amar, partilhar e procriar com a minha melhor amiga. A pessoa que melhor me entende, que me ouve, que me ama, que se ri comigo, que está do meu lado e ao meu lado. Mudei, estou diferente? Não, nada disso. O mesmo Boteta que ama os amigos continua aqui. Sempre. Apenas estou mais empenhado em mim e na minha felicidade. Sei que um dia irão fazer o mesmo, por isso espero que estejam felizes por mim...aos que não estão, fodei-vos e até à vista.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Quinta-feira, 20 de Novembro, 2003

Mais um dia pela frente. Acordo mal disposto, irritado por me levantar cedo da cama, e porque vou ter de ir até à faculdade. Os dias estão frios e a vontade é pouca ou nenhuma. Vamos Ricardo, tem de ser, força nessas pernas. Levanto-me meio zombie, digo bom dia à minha mãe, que anda nas suas tarefas há mais de um par de horas, vou até à casa de banho e lá vai a primeira urina do dia. Sabe bem e arrepia a pele. Meia volta ao carrossel, e volto ao quarto para despir o belo do pijama e preparar a fatiota de hoje. Já meio despido vou até à banheira. Água gelada a correr, à espera que aqueça. O telefone toca. A minha mãe atende. A minha mãe entra em pânico. A minha mãe chora. Quando chego perto da minha mãe, já estava à espera do que ela me ia dizer: "o avô morreu". Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Bato um novo record de tempo a vestir a roupa, pego no carro e sigo com a minha mãe até à quinta. Dentro de mim ainda há esperança, pode estar desmaiado ou inconsciente, e a minha avó assustou-se só isso. Chego à quinta, corremos pela casa a dentro em direcção ao quarto. Eu fico para trás. Sou bloqueado pelo medo da verdade. Rejeito a morte do meu avô. Fico à espera. São apenas segundos, mas parecem uma eternidade...silêncio...silêncio...de repente gritos e lágrimas vindos do quarto. Vou até à sala, sento-me e choro. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. O chão fica molhado. A familia vai chegando, lágrimas juntam-se a lágrimas. O cenário vai acalmando, as pessoas vão lá fora apanhar ar, respirar, ganhar alguma força. Dentro de casa, eu e o meu avô. Ganho coragem, chegou a hora da minha confirmação. Entro no quarto, o meu peito é esmagado, as lágrimas param de sair. Sento-me ao lado dele e dou-lhe a mão. Está fria e pesada. Olho para ele, admiro-o, revejo-me nele, despeço-me. Adeus Nandinho, vou continuar a minha vida :)

Quinta-feira, 20 de Novembro de 2003, o pior dia da minha vida.

segunda-feira, novembro 17, 2008

actos perturbantes e perdurantes

Existem actos que fazem parte de nós, que nos acompanham todo o dia, que estão sempre cá e não damos por eles. São actos intuitivos e naturais que se tornam stressantes quando pensamos neles. O piscar de olhos, o respirar, o engolir de saliva, os passos que damos, o mastigar, entre outros. Actos constantes e incontornáveis, que à mínima atenção se tornam irritantes. Se pensarmos que estamos a respirar pelo nariz, e que existe um barulhinho do ar a passar nos pelos das narinas, ficamos bem atentos, e só conseguimos ouvir esse assobio nasal. O engolir de saliva, outro prato do dia, também se torna insuportável. Ficamos com a mente paralisada e focada no tempo que vai duma engolidela até à outra. Deixamos o auto-piloto de parte e tomamos nós conta da situação: "está quase, já tenho saliva suficiente na boca...e...cá vai ela para baixo". Isto prova que o nosso corpo funciona muito bem sozinho, e que a racionalidade pode muito bem estar quieta, pois só vai atrapalhar neste processo. Detesto quando isto acontece, porque fico com o pensamento bloqueado. É o caso do clicar do rato...tic tic...tic...tic tic tic....tic...não páro de pensar neste barulhinho irritante!

As coisas que me surgem numa segunda-feira mole como a merda...

sexta-feira, outubro 24, 2008

1983-2008



A morte é algo verdadeiramente assustador. A pessoa desaparece e resta-nos a memória. As imagens que tinhamos dela, os momentos que passamos com elas são recordados vezes sem conta. Choramos porque não podemos repetir a dose. É algo frustrante para o Homem, porque temos esta necessidade de ir sempre mais longe e roçar o impossível, e com a morte não temos a mínima hipotese. Choro cada vez que penso no meu avô. Mas fico feliz por isso. Era o meu avô, e o meu avô era uma grande pessoa. A ti Nandinho, obrigado. Obrigado por seres um avô daqueles a sério. Orgulho-me disso, e podes ter a certeza que o teu lugar aqui no meu coração, não será trespassado. Não penso muito na minha morte, porque acho uma perda de tempo. Já vivemos tão pouco, que merda por merda, mais vale pensar na vida e na luta pela felicidade. Um bem haja com sabor a sushi.

ps:não morri.

segunda-feira, outubro 20, 2008

terça-feira, outubro 14, 2008

Happiness

felicidade: do Lat. felicitate
s. f.,
ventura;
bem-estar;
contentamento;
bom resultado, bom êxito;
dita;
qualidade ou estado de quem é feliz.

Todos nós temos inúmeros objectivos neste curto espaço de tempo em que andamos a pisar o planeta terra, mas existe um que é geral: Ser feliz. A felicidade apresenta-se das mais variadas maneiras. Por vezes dura uns segundos, uma tarde, alguns dias. São pequenos momentos em que nos sentimos bem, confiantes, inatingiveis. Felizmente, tenho tido uma vida repleta de felicidade. Acho mesmo que sou uma pessoa com muita sorte...ou pelo menos faço por isso. Sinto-me um iman de felicidade, mesmo que esteja num buraco muito escuro e frio. Gosto de mim por isso. O ser feliz é algo que todos queremos, mas sabemos que nunca vai existir um momento em que tudo vai passar a ser cor de rosa. Acho que a felicidade se vai construindo ao longo dos dias, e o ser feliz passa essencialmente por isso. Partilhar emoções, inspirar boa disposição, sorrir e sentirmos paz interior. Ultimamente tenho lutado por essa felicidade, e finalmente consegui. Ontem foi um dia bom para mim, um dia de viragem. Sinto-me muito feliz. Sou feliz por fazer alguém feliz, e porque sei que alguém me quer ver feliz. E isso sabe bem pra caraças :)

domingo, julho 13, 2008

cobaias paridas

Mães de todo o mundo, tomem atenção porque só escrevo isto uma vez: Vestir os filhos de igual não é coisa fofinha de se fazer. Além de ter um nível altamente bimbo, é um acto potenciador de criar e alimentar problemas mentais, a curto e longo prazo, nas pobres crianças. Infelizmente passei por isto, mas como tento sempre tirar o lado positivo das coisas, sei que rebento meu não vai ser trajado de forma igual ao irmão. Portanto, desde já, agradeço aos meus pais por tal experiência. E como este é um assunto que me custa falar deixo-vos com esta desgraça...


terça-feira, julho 08, 2008

mudez de vez

Ontem vi um casal de mudos a comunicarem, e em vez de pensar "ai coitadinhos que não falam", pensei: "ai que era tão bom que mais pessoas fossem mudas". Gostava mesmo. Um mundo mudo, onde a hipocrisia, mentira, interesse, cobardia e parvoeira em geral eram censurados através da mudez. Sim, podiam queixar-se da vida triste que levam, podiam criticar as pessoas, podiam insultar o próximo, mas o bom é que ninguém as ouvia. No máximo viamos pessoas a bracejar por todo o lado, e isso tinha piada. Imaginem que alguém vos quer fazer a vida negra, que é mesquinho, que vos queria deitar abaixo com algum discurso...não o fazia! Aproximava-se de vocês a transbordar raiva e começava a espernear e a bracejar, a abrir a boca e a tentar falar, no entanto restava-nos perguntar: "desculpe? quer dizer alguma coisa? non comprendo amigo. Adeusinho". Perfeito!...Por outro lado tudo isto se transformava num mundo de mimos revoltados...o que não era má ideia. Sempre aliviávamos o stress nalguma coisa.